Certo
dia, caminhando pela praia, vendo e ouvindo o mar que se agitava em ondas
inquietas, meditava a respeito da vida. Suas dificuldades, suas alegrias, suas
intrincadas situações nas quais eu tinha sempre que fazer escolhas; decidir a
quem favorecer; a quem não favorecer; fazer o bem; fazer o mal; fazer nada.
Refletia no quanto eu havia sido egoísta até aquele momento da minha
existência. Fazia, sem ter planejado, uma espécie de balanço da minha vida até
aquele momento. Mesmo não sendo uma pessoa religiosa, nem dessas pessoas que
acreditavam em coisas como vida após a morte, por exemplo, eu tinha em mim, no
meu íntimo, talvez no meu subconsciente, uma intuição ou suspeita de que havia
algum tipo de justiça ou de compensação para os atos que praticávamos durante a
nossa existência como seres humanos.
Era
feriado e eu aproveitava, juntamente com a esposa e filhos, para espairecer e
descansar. Na verdade, eu não estava cansado por causa do trabalho, pois tinha
uma boa disposição para tal. Talvez estivesse cansado de mim mesmo. Dizia que
ia descansar mais por costume de falar assim. Talvez porque isso justificasse o
passeio como algo útil e não como perda de tempo. Parece que isso dava ao
passeio um caráter de necessidade.
Naquele
dia, na verdade, estava me sentindo um grande inútil. Caminhava pela praia, enfadado, entediado e
até mesmo um pouco deprimido. Em meus pensamentos eu achava que, ao invés de
estar ali à toa, poderia estar fazendo algo de útil; algo importante; algo que
pudesse ajudar alguém; algo que pudesse trazer algum benefício para quem quer
que fosse, talvez até para mim mesmo. Imaginava quantas e quantas pessoas, que
viviam em condições financeiras piores do que a minha, e que mesmo assim ainda
conseguiam fazer alguma coisa pelos outros. Para não me entristecer mais,
procurava convencer a mim mesmo de que, na verdade, eu não tinha obrigação
nenhuma de ser “bonzinho’’ e ajudar a quem quer que fosse. - Não fui eu quem fez o mundo. Não fui eu quem
criou tantas situações lamentáveis. Por que eu teria que amenizar o sofrimento
das pessoas e ajudar a organizar esta grande bagunça que é o mundo? Nada do que
eu pensava conseguia me convencer de que eu estava vivendo e agindo
corretamente. Eu não estava fazendo nada! Nem por mim mesmo eu estava fazendo
alguma coisa. Estava me sentindo um completo inútil.
Caminhava
devagar, molhando os pés na água fria, que em seu ir e vir tornava minha
caminhada mais enfadonha, mais entediante. Olhando para frente, ao longe
percebi que havia mais alguém que tinha resolvido caminhar naquela manhã.
Estava um pouco frio, por isso acredito que a praia estava daquele jeito, quase
deserta. Lentamente o vulto foi se aproximando e se definindo. Tratava-se de um
senhor idoso de cabelos e barbas já grisalhos. Ao cruzarmos um com o outro nos
cumprimentamos com aquele “bom dia” indiferente, aquele cumprimento que fazemos
mais por obrigação do que por vontade. Pelo menos da minha parte foi assim. Não
sei bem por que, mas tive a sensação de que o velho tinha parado depois de
passar por mim e isso me fez parar também. Feito uma criança curiosa olhei para
trás e vi que o velho de fato estava parado me olhando de um modo curioso e ao
mesmo tempo muito terno.
- Muito
frio hoje, não? Pronunciei estas porque não sabia o que dizer, de tão inusitada
que era a situação. Graças a Deus ele não me deixou esperando muito e
respondeu.
- Sim.
Muito frio, mas pior que o frio do clima é o frio dos nossos corações.
Bastante
surpreso pela resposta do velho, indaguei:
- Desculpe, não entendi.
O velho calmamente aproximou-se
um pouco mais de mim e se fez mais claro.
- Disse isso porque percebi certa
tristeza em seu olhar meu amigo, se é que posso chamá-lo assim, e o olhar quase
sempre mostra o que se passa no coração.
- Claro que pode me chamar de
amigo, mas quanto a esta certa tristeza, deve ser impressão sua. Falei isso de
modo automático, como quem procura negar, esconder ou disfarçar os sentimentos,
afinal estava na presença de um estranho. Mas, estranhamente senti uma espécie
de confiança naquela pessoa, talvez por sua aparência de “bom velhinho” e
continuei falando.
- Estava apenas pensando um pouco
na vida e na falta de sentido de tudo isso. Na verdade, acho que estou um pouco
entediado. Deve ser isso.
- Viver não é fácil mesmo meu
amigo. A vida é como uma corrida de obstáculos. Mal acabamos de superar alguma
dificuldade e logo surge outra e mais outra. Digo isso porque já passei por
tanta coisa nesta vida... Já me senti assim como você está se sentindo agora
durante muito tempo, mas hoje superei esta dificuldade e não tenho mais este
problema.
- Me conte como foi isso, pedi,
mal disfarçando aquele misto de ansiedade e curiosidade.
Chegávamos perto de um quiosque
que ainda estava fechado. Com as mãos,
limpamos a areia deixada pelo vento noturno e nos sentamos nos bancos de uma
daquelas mesas de madeira que ficam fixas na praia.
-
Sabe por que você está se sentindo assim? É porque você tem vivido de um modo
muito egoísta. Você só tem se preocupado consigo mesmo.
- Não é verdade. Retruquei,
mostrando um pouco de irritação. Eu trabalho muito, tenho esposa, filhos, aos
quais não falta nada.
- Claro meu amigo, mas não é
disso que estou falando. Preste atenção: toda esta realidade é feita para que
nós tenhamos todo tipo de experiências; para que possamos, através desse
aprendizado, desenvolver nossa capacidade de amar, de compreender os outros
para nos sentirmos irmanados aos outros. Você compreende? Você tem feito isso?
Fiz aquela cara de quem não
estava compreendendo muito bem. Ele continuou.
- Aprendi que nós não viemos a
este mundo apenas para sobreviver. Não estamos aqui apenas para comer, defecar
e procriar. Viemos aqui, principalmente para desenvolvermos nossa capacidade de
amar.
A conversa estava me incomodando.
Por um momento, em minha ignorância, cheguei a pensar que o velho tinha outras
intenções.
- Pense no que tem feito de sua
vida até agora. Será que tem feito aquilo que o seu coração tem mandado? Será
que sua consciência está tranquila com o seu modo de proceder? Será que o alimento
material que tem fornecido aos seus tem sido suficiente para lhes satisfazer
todas as necessidades? Se a resposta para estas perguntas fosse sim, você não
estaria neste estado depressivo porque sua consciência estaria tranquila. E no
tempo livre que você dispõe? O que tem feito? Será que andar sozinho e
entediado pela praia é uma boa coisa para se fazer com esse tempo tão precioso?
- Aonde o senhor quer chegar?
Agora fazia cara de irritado mesmo. Cara de alguém que não estava gostando nem
um pouco do rumo para o qual aquela conversa caminhava. Tinha a impressão que
estava levando uma bronca. Sendo chamado à atenção por um estranho.
- Por favor, não se aborreça. Não
estou lhe julgando ou querendo lhe dizer o que deve fazer de sua vida. É que
sinto que posso lhe ajudar a entender o que se passa consigo. Essas perguntas,
aparentemente impertinentes, são apenas parte da introdução para o que quero
lhe dizer. E quero lhe dizer isso porque já me senti assim tão inútil como você
está se sentindo agora. Aprendi durante minha vida que “Somos Um”, explico:
Existe, entre as pessoas, por mais estranhas que sejam umas às outras, uma
ligação entre elas, ou seja, somos parte de uma coisa só! É por isso que,
quando nos sentimos sozinhos ficamos chateados, como você está agora. E ficamos
assim porque sabemos, de uma maneira intuitiva, que estamos distantes dos
outros. Nós precisamos dos outros para tudo! Até mesmo para nos reconhecermos
precisamos do olhar do outro! A verdade é que, todo o sentido da nossa vida
está relacionado à vida dos outros! O outro é quem diz quem nós somos! Você já
deve ter ouvido a expressão: “ninguém é feliz sozinho”, pois esta é uma das
grandes verdades que aprendi ao longo da minha vida. Por trás desta frase tão
singela se esconde um grande ensinamento, uma lei universal.
Agora eu estava espantado com o
discurso do velho. Tinha a impressão de que ele sabia mesmo o que se passava
comigo.
- Comece a analisar sua vida
partindo desse ponto de vista e você verá que está sozinho. Mesmo junto à
família ou com muitas pessoas ao seu redor, você pode estar sozinho.
- Como fazer para não nos
sentirmos sozinhos? Senti que esta era a pergunta que ele esperava que eu
fizesse.
- Todas as vezes que tomamos
atitudes egoístas nos distanciamos das pessoas. Quando deixamos de fazer o bem
para alguém, por mais insignificante que seja este ato, estamos nos
distanciando das pessoas. Saiba que, em certos momentos, um sorriso, uma
palavra de carinho, são bondades maiores que muitas coisas que o dinheiro pode
proporcionar. As pessoas, em algumas ocasiões, só querem um pouquinho de
atenção. Quando negamos isso para elas estamos nos distanciando não só destas,
mas de todas as pessoas. O problema é que o egoísmo está tão arraigado em nós
que começamos a achar que nosso comportamento indiferente para com os outros é
coisa normal, mas não é, tenha certeza disso. Passamos a ver todos como
competidores ou como obstáculos que precisam ser removidos de nosso caminho.
Enquanto agirmos assim estaremos nos distanciando das pessoas. Então, meu
amigo, respondendo à sua pergunta: para não nos sentirmos sozinhos, afastados
das pessoas, basta que passemos a tratar os outros como gostaríamos de ser tratados.
Muito simples não? Devemos agir como alguém que sempre quer o bem dos outros.
Comece a agir assim e você verá que a sua vida se encherá de sentido. Por que
você se sente insatisfeito mesmo tendo uma vida confortável? É porque lá no
fundo você sente e você sabe que não está fazendo o bastante nem para os outros
que lhe cercam e nem para você mesmo. Toda esta insatisfação pode ser traduzida
como solidão – a solidão do egoísmo. O egoísmo é contrário a Lei estabelecida
pela Fonte de Amor de onde viemos, na qual fomos gerados. Esta Lei é muito
simples e você, intuitivamente a conhece e a sente em seu íntimo. É a Lei de
Atração. Ela nos diz que o semelhante atrai o semelhante. Pode ver, todo gesto
de carinho atrai outro gesto de carinho. Amor atrai amor. Generosidade atrai
generosidade. Experimente viver espalhando por aí aquilo que você deseja para você
mesmo e verá que sua vida ganhará outro sentido. Egoísmo atrai solidão.
Compartilhamento atrai as pessoas para junto de você e como eu disse antes,
precisamos dos outros, eles são o sentido de nossas vidas. Você está me
compreendendo?
- Creio que sim, mas será que
isso funciona na prática?
- Experimente por alguns dias.
Mude sua maneira de agir. Comece a ver todos, mesmo aqueles a quem você não
aprecia muito, como se fossem seus semelhantes, como se fossem seus irmãos.
Trate a todos com carinho, com generosidade. Não deixe de fazer o bem sempre
que tiver oportunidade e você verá o que vai acontecer em sua vida. O bem atrai
o bem!
Ficamos ali conversando por mais
alguns minutos. Ele reforçou alguns pontos de suas ideias e eu tirei algumas
dúvidas. Com um aperto de mão nos despedimos. Quando ele já se ia longe,
lembrei-me de que não havia perguntado sequer o seu nome e nem ele ao meu.
No caminho de volta para a casa
onde minha família estava hospedada fui meditando nas palavras daquele
simpático velhinho. Será que ele tinha razão? Para mim, ser egoísta, querer
sempre o melhor somente para mim era uma coisa tão normal. Seria esta a razão
pela qual eu estava me sentindo tão vazio? Bem, não custava nada experimentar e
tentar uma mudança. Sempre notei que as pessoas boas e generosas eram mais
serenas, estavam sempre alegres e confiantes, mesmo nas piores situações.
Resolvi tentar.
Decidi começar na mesma hora, com a esposa e
com os filhos. Ao voltar para casa, dei a ideia de fazermos algo juntos,
dividir tarefas, conversarmos, enfim tornar aquele passeio um motivo de união e
não o que costumava ser: cada um para o seu lado, isolado em seu próprio mundo,
como se fôssemos estranhos...que, de fato, éramos. O resultado foi que tivemos
um dia maravilhoso. Brincamos, cozinhamos, conversamos e até lhes contei sobre
o encontro com o meu amigo anônimo.
Passei a buscar conhecimentos
relacionados àquela tal Lei de Atração e acabei descobrindo toda uma realidade
espiritual que se escondia por trás daquelas palavras tão simples: semelhante
atrai semelhante. Estudei sobre reencarnação, lei de causa e efeito, enfim
passei a compreender, tal como o velhinho me ensinou, que não viemos à Terra
somente para comer, defecar e procriar. Entendi com profundidade aquilo que ele
disse sobre precisarmos uns dos outros. Aprendi que cada um de nós é um
pedacinho do Criador. Por isso é que precisamos uns dos outros. Somos pedaços e
para nos sentirmos inteiros e completos precisamos estar unidos uns aos outros.
Entendi porque o Mestre Jesus e tantos outros espíritos iluminados que
estiveram na Terra nos aconselhavam amar até os nossos inimigos: Somos Um!
A partir daquele dia. A partir
das palavras singelas daquele amigo anônimo, minha vida mudou de rumo. Ele deu
início ao começo da minha mudança de atitude em relação à vida ao falar da Lei
de Atração e me fez procurar e encontrar o sentido de minha existência.
Se hoje estou aqui, já desencarnado, tendo o
privilégio de transmitir esta mensagem positiva, procurando com muita
humildade, fazer com que as pessoas também passem a procurar por si mesmas nos
outros, na felicidade dos outros, agradeço aquele velho amigo que eu, tenho
certeza, um dia vou reencontrar para poder abraçá-lo e agradecer por tudo que
ele despertou em mim naquele dia frio de praia deserta.
A todos que tiverem contato com minhas pobres
palavras, aconselho que pensem sobre isso com muito carinho. É uma coisa tão
simples, mas que pode ser, para vocês também, o início de uma mudança que vai
lhes fazer despertar do pesadelo do egoísmo para a realidade da Lei de Atração
– semelhante atrai semelhante. Vocês poderão perceber que colhemos aquilo que
plantamos. O ensinamento é tão simples que dá a impressão de que não tem o
efeito que estou anunciando, mas façam como o velhinho me recomendou:
experimente por alguns dias e depois tirem suas próprias conclusões.
Egoísmo atrai solidão.
Generosidade atrai amigos e
irmãos.
E nós precisamos uns dos outros,
Porque somos todos UM.
Muita paz e muita luz
Mensagem psicografada em
10/10/2016
Oigostei
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