Porque mais um blog?

É natural que se pergunte:

Porque mais um blog espiritualista de mensagens e poemas em meio a tantos que já existem?

Que teríamos de novo pra oferecer?

Além da simplicidade, sinceridade e desejo de sermos úteis, não temos nada de novo a oferecer, mas gostaríamos de perguntar: será que temos realmente prestado atenção naquilo que temos lido nestes muitos sites e blogs de mensagens ou poemas? Muitos deles trazem ótimas mensagens, lindos poemas e excelentes textos que, se prestássemos mesmo atenção, seriam de grande utilidade para nossa s vidas.

Oferecemos mais um destes blogs com mensagens, poemas e pequenos textos de esclarecimento, porém recomendamos que você leia apenas um texto de cada vez, reflita sobre ele, somente depois leia outro. Nestes tempos de excesso de informação em que vivemos, cometemos o erro de querer ler tudo para saber de tudo e acabamos, na pressa, não lendo nada e não aprendendo nada. Parece que o problema não está na quantidade de blogs e sites, mas no modo como temos nos relacionado com estes textos.

Vamos apresentar textos escritos por espíritos - alguns que ainda estão no corpo físico e outros que já deixaram a matéria densa e desfrutam da liberdade espiritual em corpos menos densos. A preocupação maior desses textos é de contribuir, ainda que minimamente, para tornar a humanidade melhor.

Esperamos que vocês leiam com atenção, desfrutem, reflitam... mas sem pressa!

Não queremos convencer, pregar religião ou fazer a cabeça de ninguém, pois acreditamos que a melhora espiritual só ocorre quando vem de dentro para fora e, para isso, é necessário que tenhamos autonomia. Entendemos que é preciso estar com a mente aberta, livre de dogmas para poder aprender coisas novas.

Se desejar, faça um comentário. Sua opinião e/ou colaboração além de muito importante, será bem vinda.

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sábado, 1 de outubro de 2016

Pequeno milagre no sertão

Era mês de fevereiro já chegando em março no nordeste brasileiro. A seca estava no pico. Na caatinga, as últimas flores e folhas teimosas do mato rasteiro entregavam suas vidas ao sol ardente e aos ventos que mais pareciam bafos quentes das fornalhas do inferno. O verde ia se “amarronzando” de vez. A seca estava em seu pior momento. O momento decisivo. Ou começava a chover ou se emendaria uma seca na outra sem passar pelo período das chuvas. Os animais, principalmente o gado tombava um a um pela fraqueza ocasionada pela falta de alimentação, consequência direta da seca e pela sede propriamente dita.

Tudo era tristeza. Dava pra ver a tristeza nos olhos dos bichos e das gentes. Os animais tombavam mortos e nas gentes era a esperança que tombava. Assim iam tombando um a um, cada qual do seu jeito. A impressão que dava era que Deus tinha mesmo se esquecido de tudo e de todos por aquelas bandas. Só se via poeira e algumas pessoas se arrastando em busca das últimas poças d’água em que se transformaram os açudes. Era um cenário desolador.
Famílias inteiras e famílias metades punham-se na estrada levando nas costas, feito burros de carga, seus pertences, suas crianças e sua dignidade. Deixavam quase tudo para trás na busca desesperada por outra vida melhor em outras paragens onde a falta de esperança não fosse tão presente. Buscavam um lugar onde a dor fosse outra que não a dor do estômago vazio que finda esvaziando também a esperança da alma.
Em meio a esta paisagem desolada, num pedacinho de terra distante de tudo, avistava-se uma casinha de pau-a-pique. Lá morava um João, mais um da Silva entre tantos da Silva famintos que resistiam até as últimas forças pra não abandonar a terra que foi do pai e que um dia ia se encher de flor, de verde, de comida e de alegria.
Meio sentado e meio deitado em sua rede velha e puída que tinha a mesma cor tudo, João se balançava pra lá e pra cá olhando para o céu a espera de um sinalzinho que fosse da chuva que traria novamente vida à tudo, inclusive pra ele mesmo. Quando a seca atinge esse estágio até parece que as coisas vão ficando todas da mesma cor marrom. Cor de morte. Cor de desesperança. Parece que não existem mais pessoas, nem bichos, nem casas, nem vegetação. Só existe o marrom. A cor passa a ser coisa. Ela representa a entrega das forças; ela é a face da prostração do ânimo.
Pensativo, balançando pra lá e pra cá em sua rede gemedeira, João da Silva se perguntava: por que as coisas têm de ser assim? Sabia que na cidade as coisas eram um pouco diferentes. O povo dizia que lá tudo era mais fácil. A única resposta que lhe vinha à mente era que Deus havia se esquecido dele mesmo. Não só dele, mas daquele povo todo que, aos seus olhos, parecia que nem era mais gente, porque já tinham a mesma cor de tudo. Marrom. Cor de abandono.
Nessas horas, seu pensamento o levava de volta à infância, à adolescência e para sua mocidade. Foram épocas em que chuva não foi tão ausente e molhava aquela terra que se enchia de beleza e de alegria só de ouvir o barulho de um trovão. Mas, logo voltava para o hoje e se deparava com toda aquela sequidão, com toda aquela tristeza. Dava de cara com aquele sol esmagador, cujo brilho só faltava cegar. Cadê as nuvens? Perguntava pra ninguém. A única resposta que ouvia era a sua própria, que repetia que Deus se esqueceu daquela terra e daquela gente da mesma cor da terra. Insistia: como é possível? Tanto lugar de fartura, onde chove até demais e ali, aquela insistente sequidão, aquela falta de saída. O fato é que não conseguia, em sua cabeça de sertanejo, de homem simples, acreditar que aquilo era justo. Não era justo não, que aquele povo todo vivesse naquela situação de penúria. Já tinha rezado tanto. Já tinha feito tanta promessa pra tudo que era santo e nada. Nada de chuva. A única água que nunca faltava eram as lágrimas daquela gente sofredora e triste que não tinha meios de sobreviver com dignidade.
O que João ainda tinha em casa pra comer, era um resto de feijão que nem dava pra manter o saco em pé, uns bons punhados de farinha e algumas rapaduras, coisa que daria pra poucos dias. Com sorte caçaria um mocó pra fazer de mistura. João ficava imaginando como era possível que esses bichinhos conseguissem sobreviver naquela terra empoeirada. Se para ele, homem, já estava quase impossível...
Dava graças a Deus por não ter casado ainda e não ter uma ruma de meninos pra criar. Podia ficar ali prostrado, esperando a morte chegar sem ter outras preocupações, além daquelas inerentes à seca. Ficaria maluco, com certeza, se tivesse mais gente pra ele ter de dar de comer. Se tivesse mulher e filhos seus problemas seriam bem maiores. Seriam sim!
Numa dessas tardes em que nem vento tinha e que tudo parecia parado, e o único movimento era o de sua rede gemedeira, seus olhos avistaram uma figura que de longe vinha aos poucos se aproximando. Um pontinho no meio do nada que ia crescendo de pouquinho em pouquinho. Um vulto, que como tudo por lá quase não tinha cor própria. De vez em quando se misturava com a poeira da estrada e quase não se distinguia dela. Levou bem uns vinte minutos para o velho maltrapilho poder, aos olhos de João, ser separado da estrada, dos galhos secos e da poeira. João se surpreendeu, porque nesses tempos de seca brava ninguém se aventurava a fazer grandes caminhadas por ali, até pra economizar forças. Só se aventuravam aqueles que decidiam a fugir da seca e da falta de perspectiva; aqueles que se iam de uma vez por todas.
- Se achegue meu velho! Que diabos o senhor faz por estas bandas. O rumo da cidade é pro outro lado!
- Estou só passando. Tô meio sem rumo. Não tenho morada fixa. Mas não quero incomodar. Se puder ajudo, se não vou me embora.
- Venha pra sombra meu velho! Dizendo isso, levantou-se, foi até o camburão de água que ficava na cozinha, encheu uma caneca e voltou.
- Tome aqui um gole d’água. Pra beber ainda se arruma.
- Obrigado meu filho.
Puseram-se a conversar sobre muitas coisas, mas o assunto principal não poderia ser outro a não ser a seca que assolava a região e os corações. Não tinham como fugir dela, nem nas conversas. Falavam, falavam, falavam, que mais podia se fazer em relação à seca? Anoiteceu, João foi pra cozinha e preparou no fogão de lenha um feijão temperado com fome. Comeram com gosto.  João espalhou um monte de palha no canto do quarto para o velho dormir em cima e descansar os ossos. O velho agradeceu a acolhida e dormiu a noite inteira.
No outro dia, quando o sol já apontava ameaçadoramente no horizonte, o velho já se encontrava pronto pra colocar os pés na estrada. João não quis deixar o velho sair sem um desjejum e lhe deu de comer mais um “feijãozinho”. O velho comeu, agradeceu e fez este comentário:
- Sabe moço, eu já estive em muitos lugares nesta minha longa vida. Já vivi muito mesmo moço. Estive em casa de pobre e casa de rico; em casa de gente boa e em casa de gente ruim. Já vi muita beleza, mas já vi muita coisa feia, mas uma coisa posso lhe dizer: não me lembro, em todo esse tempo, de ter saboreado uma refeição tão boa, ter bebido uma água tão fresca e ter estado em tão boa companhia.
João não disse nada, apenas olhou para o velho como quem olha para uma criança. Pensou que aquilo era coisa de caduco mesmo. Onde já se viu uma caneca de água salobra, um prato de feijão sem tempero nenhum e que tão duro quase nem cozinhava e um matuto feito ele terem aquelas qualidades. De jeito nenhum! Só podia ser coisa de caduco mesmo.
- Sabe moço, continuou o velho, você vive se perguntando por que é que as coisas são assim tão difíceis, não é verdade? Pois eu vou tentar lhe explicar pra ver se você entende. Você já viu alguém fazer esforço quando está na fartura?  Não, na fartura a maioria das pessoas se acomoda. Você já viu alguém se perguntar por que é que Deus é tão generoso quando as coisas estão indo bem? Não moço, a maioria das pessoas nem se lembra que Deus existe quando as coisas estão boas. O problema moço é que nós só crescemos e aprendemos a ser pessoas melhores na dificuldade. Imagine o tamanho da alegria desse povo quando a chuva vier. O tamanho dessa alegria só pode ser comparado com o tamanho da tristeza provocada pela seca. Disso, você pode concluir que só pode saber realmente em toda plenitude o que é uma grande alegria quem passou por uma grande tristeza, porque tem uma coisa oposta pra comparar. Tem muita coisa que não dá pra gente compreender mesmo. Coisas que estão nos desígnios Daquele que criou tudo isso e que só Ele sabe. Tem aquelas coisas ruins que podemos ter feito nas outras encarnações que já tivemos antes aqui na Terra e que talvez uma vida só não dê pra consertar. Mas de qualquer jeito não é tão difícil assim entender que precisamos do ruim pra saber o que é o bom. Precisamos da seca pra poder a valorizar a chuva abençoada e aprender, como faz a formiga, guardar um pouco na época da fartura pra quando a fase ruim chegar pra não passar necessidades. Há quanto tempo existe a seca moço? Será que já não era pra gente ter entendido a sua lição? Precisamos da fome pra sentir o gosto da comida. Um mundo onde não faltasse nada, faltaria tudo. Faltaria até alegria, sabe por que? Porque não teria tristeza pra comparar.
João ouvia tudo, prestava atenção e compreendia mais ou menos o que o velho queria dizer. Depois de pequena pausa, o velho continuou falando de um jeito manso como quem dá tempo para o outro pensar no que foi dito.
- Nunca diga que Deus te esqueceu meu filho, porque isso não é verdade. Deus está presente sempre, para isso é que Ele deixou pedacinho dele dentro de nós. O problema é que basta a coisa ficar ruim pra gente se esquecer disso. Todo filho tem alguma coisa do Pai. Nunca se deixe levar pela desesperança, porque um dia a chuva vem. Pode demorar um pouco mais ou um pouco menos, mas um dia ela vem. E quando vier trará muita coisa que se havia esquecido ou perdido. Não deixe que a pior das secas tome conta de você, a seca do coração, a falta de amor. Pra essa não tem chuva que dê jeito. Veja que com toda a miséria que você está passando, ainda teve a bondade de me dar de comer, de beber e me dar pousada. Você mostrou que é possível ter um gesto de bondade mesmo numa situação dessas. Isso moço foi lição da seca, porque na fartura, esse gesto não seria tão valioso. Fique em paz moço, que Deus te abençoe!
João continuou parado, pensativo, enquanto o velho do qual nem sabia o nome ia se afastando lentamente e seu vulto novamente se misturando ao marrom da estrada, da poeira, de tudo. Ficou ainda mais alguns minutos a matutar e chegou a conclusão de que o velho até tinha alguma razão, mas no fundo estava caducando mesmo.
Entrou em casa pra tomar um gole d’água e notou uma coisa estranha: tanto o saco de farinha quanto o saco de feijão estavam quase cheios. Jurava que estavam quase acabando da última vez que os tinha visto! Tinha rapadura demais também! Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Vai ver que a seca lá estava lhe cozinhando os miolos também. Pegou a velha caneca de alumínio, encheu com água do velho camburão e bebeu. Nunca em sua vida tinha bebido uma água tão doce, tão fresca...

Ainda meio assustado pensou: é... vai ver que Deus não esqueceu da gente mesmo...

Um espírito amigo

Mensagem psicografada em 26/09/2016

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